domingo, 30 de maio de 2010

NOTA DE REPÚDIO*

O RACISMO SE EXPRESSA MAIS UMA VEZ DENTRO DAS UNIVERSIDADES

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Nós, estudantes do Coletivo Tudo Vai Ser Diferente, vimos através desta repudiar a postura racista da delegada da 4ª Delegacia Distrital de João Pessoa, Juvanira Holanda, e do vendedor de cartões de crédito, Vagner Pereira, que agrediu fisicamente a estudante africana Cadidjatu Cassama.


Na segunda feira (24/05), a estudante foi agredida por este homem que vendia cartões de créditos no campus da UFPB. Segundo testemunhas, Cadidjatu teria recebido uma cantada e posteriormente o vendedor teria feito gestos obscenos contra ela. No momento a estudante exigiu respeito e se indignou, e ele partiu para agressões verbais e xingamentos racistas que culminaram na agressão física. Após o ocorrido, Cadidjatu foi internada no Hospital de Emergência e Trauma e o vendedor Vagner Pereira, por sua vez, foi levado para a delegacia, onde prestou depoimento e foi liberado em seguida.

Ainda não sendo suficiente toda a violência pela qual a estudante foi submetida, chamamos a atenção para as declarações dadas pela delegada Juvanira Holanda, dizendo que o agressor não vai responder nem por racismo nem por lesão corporal. Para a delegada, chamar uma pessoa de negro não configura crime de racismo e chutar o abdômen não é lesão corporal. Na sua opinião: “Não houve racismo. Para caracterizar racismo tem que ter uma série de coisas. Não é só chegar e falar 'sua branca', 'seu negro' ou 'seu negro safado'. Só caracteriza racismo quando, por exemplo, você impede o acesso de um negro a educação”, afirmou a delegada para os meios de comunicação.

Este fato ocorreu no dia em que se comemora o dia da África, cabe aqui uma reflexão se de fato este dia é para ser comemorado, como aconteceu na UFRN que promoveu debates e desfiles sobre o continente. Achamos que esse é um dia – assim como todos os outros – para se pensar o racismo no Brasil e no mundo e principalmente da forma como ele esta aparecendo em nossa universidade, citando o caso do Estudante de Direito da UFRN Leonel Quade que foi humilhado pelo professor Nilton Pires, devido à cor da pele.

O Brasil foi um dos últimos paises do mundo a “abolir” a escravidão e o penúltimo a interromper o tráfico de seres humanos. Foi também o que mais recebeu escravos entre todos os países das Américas. Das quase 10 milhões de pessoas forçadas a vir para as Américas, 3,6 milhões foram trazidos para o nosso país. Hoje, quando falamos da população negra, não estamos falando de uma minoria racial, mas de 45,3% da população brasileira, de cerca de 70 milhões de pessoas. Por séculos os negros foram seqüestrados, torturados, humilhados, dizimados, não em campo de concentração como os judeus (holocausto), mas, ontem e hoje, sob os olhares da sociedade. É diante desta realidade que se faz necessário abrir o debate sobre a questão racial dentro das Universidades, combatendo assim a apatia com a qual o assunto vem sendo tratado.

Portanto, nos resta concluir que enquanto o Estado brasileiro reconhece a situação de preconceito racial, violência física e psicológica sofrida pelas mulheres negras brasileiras, criando mecanismos de proteção como a Lei Maria da Penha e as políticas de Ações Afirmativas, a digníssima delegada, vem na contramão da história e dos fatos expressando o mais refinado preconceito, machismo e racismo incrustado na sociedade brasileira. E temos na figura do vendedor Vagner Pereira uma atitude vergonhosa, que expressa da mesma forma, com seu ato de violência, o nível de ignorância e intolerância na qual a sociedade brasileira foi capaz de chegar.

Portanto, nos somamos aos estudantes da UFPB e de todo o Brasil exigindo que o caso seja apurado com rigor, coerência e punição. Esperamos que o mesmo tenha um fim e não caia no esquecimento, como acontece e já aconteceu várias vezes neste país, que defende a afirmação de que não existe racismo no Brasil.

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